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A Impossibilidade de Uma Só Natureza Humana: Variação é a Norma

  I – INTRODUÇÃO A ideia de que existe uma natureza humana única, estável e relativamente homogénea domina grande parte do imaginário jurídico, filosófico e até científico do século XX. Atribuímos aos outros uma arquitetura psicológica semelhante à nossa, supomos que reconhecemos emoções com um simples olhar, acreditamos que percepções e memórias funcionam de modo uniforme nas diferentes pessoas e culturas. Esta suposição de universalidade, confortável e intuitiva, funciona como a gramática subterrânea de múltiplos discursos normativos: do direito ao quotidiano, da política à educação. Contudo, a investigação contemporânea em neurociência, psicologia cultural, antropologia e ciências cognitivas sucessivamente desmente esse pressuposto. O que a literatura científica revela, com uma consistência impressionante, é algo distinto: variação é a norma . O cérebro humano, longe de ser uma máquina padronizada, é um sistema plástico que se forma e transforma em diálogo estreito com a cul...