O Eterno Retorno do Fascismo — Síntese crítica da obra de Rob Riemen
Rob Riemen, ensaísta holandês e diretor do Nexus Institute, publicou em 2010 O Eterno Retorno do Fascismo, um texto breve mas contundente que se tornou referência na reflexão sobre os perigos da degradação democrática e da ascensão de novos autoritarismos. A obra parte de uma tese simples mas perturbadora: o fascismo não é um fenómeno do passado, sepultado em 1945; é uma pulsão recorrente da vida política e social que reaparece sempre que a democracia liberal se esquece dos seus próprios fundamentos.
O que é, afinal, o fascismo?
Riemen recusa ver o fascismo como mera ideologia programática. Para ele, é sobretudo uma atitude espiritual e cultural, enraizada no ressentimento, na mediocridade e na recusa da vida intelectual. Não é necessário que surjam camisas negras nas ruas para que o fascismo se reinstale: basta que a política se torne espetáculo, que as massas sejam seduzidas por líderes carismáticos que oferecem respostas simples para problemas complexos, e que a cultura se renda ao populismo e à vulgaridade.
O fascismo, lembra Riemen, nasce da inveja social e do medo da diferença. Cresce quando os cidadãos perdem o sentido de responsabilidade moral e aceitam trocar liberdade por segurança, pensamento crítico por propaganda, verdade por manipulação.
Democracia em risco
Uma das mensagens mais fortes do livro é a advertência de que as democracias contemporâneas não estão imunes. Pelo contrário, o fascismo regressa precisamente quando os sistemas democráticos enfraquecem, quando a política se reduz a marketing eleitoral e quando os partidos abandonam a missão de formar cidadãos conscientes, limitando-se a satisfazer instintos imediatos do eleitorado.
Riemen denuncia ainda a ilusão do progresso automático: não há uma linha inevitável de evolução em direção a sociedades mais racionais e livres. O fascismo regressa porque é sempre possível. O “eterno retorno” é um aviso contra a ingenuidade histórica.
A complacência das elites
Tal como nos anos 20 e 30 do século passado, quando Hitler e Mussolini foram inicialmente tolerados, até mesmo admirados por setores das elites políticas e económicas, Riemen chama a atenção para a tentação da conivência. Hoje, como então, há intelectuais, dirigentes partidários e líderes empresariais que preferem fechar os olhos ao perigo, acreditando que podem “domesticar” os populistas ou usá-los para ganhos imediatos. Esse erro, recorda o autor, foi fatal para a democracia europeia há um século — e pode ser novamente.
A responsabilidade da imprensa e da intelectualidade
Outro paralelismo perturbador é a complacência mediática e intelectual. Nos anos 30, muitos jornais, escritores e académicos legitimaram os regimes autoritários, minimizando a violência ou até colaborando com a sua propaganda. Hoje, observa Riemen, parte da imprensa transforma figuras populistas em entretenimento e dá-lhes palco em nome das audiências, enquanto uma parte da intelectualidade abdica da sua missão crítica, preferindo o comentário superficial ou a neutralidade confortável. Esta abdicação abre espaço para que o fascismo regresse sob novas roupagens.
A cultura como antídoto
Se o fascismo nasce da vulgaridade e do ressentimento, a única defesa duradoura está na cultura humanista. Para Riemen, é preciso cultivar a grande tradição do pensamento, da literatura, da filosofia, da música e das artes, que oferecem à sociedade horizontes de transcendência e sentido. A educação cívica e moral, mais do que a instrução técnica, é essencial para evitar a degradação do espírito democrático.
A relevância atual
Quinze anos após a primeira edição, a obra mantém uma inquietante atualidade. Num tempo em que líderes populistas crescem em várias latitudes, em que a política se faz cada vez mais nas redes sociais e em slogans, a advertência de Riemen soa profética. O fascismo não regressa sempre com o mesmo uniforme, mas reaparece sob novas máscaras: nacionalismos exacerbados, discursos de ódio, erosão do Estado de direito e desprezo pela verdade factual.
Conclusão
O Eterno Retorno do Fascismo é um ensaio curto, de leitura rápida, mas que atua como choque intelectual. Lembra-nos que o fascismo é menos um regime do passado e mais uma sombra que acompanha permanentemente a democracia. A sua superação exige vigilância, cultura e coragem moral. Riemen convida-nos a não ceder à mediocridade e a não esquecer que a liberdade é sempre frágil — e que a sua defesa começa no espírito de cada cidadão.
https://www.robriemen.nl/en/boeken/the-eternal-return-of-fascism/
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