O Nacional-Socialismo como Doutrina do Ressentimento - Menno ter Braak (1937)

 


Nota introdutória

Menno ter Braak (1902–1940) foi um dos mais influentes ensaístas e críticos literários holandeses do período entre guerras. Conhecido pela sua prosa incisiva e pela recusa em pactuar com qualquer forma de dogmatismo, ter Braak tornou-se uma das vozes mais lúcidas contra a ascensão do fascismo na Europa. Suicidou-se em maio de 1940, na véspera da capitulação da Holanda perante a Alemanha nazi — um gesto interpretado por muitos como recusa em viver sob a ocupação.

O ensaio que aqui se publica, Het nationaalsocialisme als rancuneleer (1937), mostra bem a clareza da sua análise. Nele, ter Braak parte da ideia de que o nazismo não é apenas um movimento de “fracassados” (como dizia ironicamente um diplomata citado), mas a expressão política extrema de uma força omnipresente nas sociedades democráticas: o ressentimento.

Inspirado por Max Scheler, o autor descreve como o ressentimento — alimentado pela promessa de igualdade e pela incapacidade de aceitar desigualdades reais — se converte em slogans simplistas, ódio a bodes expiatórios e culto do líder. O nacional-socialismo surge, assim, não como uma anomalia externa, mas como a perversão da própria democracia e do socialismo.

Publicado em 1937, este ensaio continua a ressoar hoje, como diagnóstico da lógica dos populismos que exploram frustrações coletivas e reduzem a política a esquemas de “nós contra eles”.

Nota sobre termos:
Blubo era uma abreviação depreciativa de Blut und Boden (“Sangue e Solo”), ideologia racial e agrária nazi.
Winterhilfe era a campanha de “ajuda de inverno”, usada como propaganda de caridade pelo regime.
Hagepreek designava as pregações campais protestantes, evocadas ironicamente por ter Braak.


Referência da edição original

Menno ter Braak, Het nationaalsocialisme als rancuneleer. Publicado em 1937. Disponível em DBNL – Digitale Bibliotheek voor de Nederlandse Letteren.

Tradução para português a partir do original neerlandês.


Ainda me lembro vividamente de como, há alguns anos, num encontro casual com um conhecido ex-diplomata, respondi à seguinte pergunta:
«Considera que o nacional-socialismo é um perigo real na Holanda?»
Ele respondeu:
«Não, senhor, o nacional-socialismo é um bando de fracassados!»

Recordo-me de que esta definição me impressionou, não tanto pela sua parcial verdade, mas pelo tom elegante e despreocupado com que foi proferida, como se se tratasse de uma bagatela indigna de ocupar um cavalheiro de educação e boas maneiras inconfundíveis.

Um bando de fracassados: na hora certa! Mas quão forte é esse bando? Não será, por acaso, uma multidão? Não será um exército? Não será a “revolta das hordas”? O fracassado, o homem que não consegue aceitar o seu falhanço, não será antes o símbolo de uma disposição espiritual que, mesmo fora dos casos pessoais de insucesso, se encontra disseminada por toda a parte e que não pode ser descartada com indiferença?

É precisamente esta fatal indiferença dos chamados intelectuais — entre os quais se pode, sem injustiça, incluir o diplomata citado — esta confiança beatífica de não pertencer àquela “horda” e de que os “fenómenos de crise” desaparecerão com a chegada de uma conjuntura económica mais favorável, que explica em parte por que razão o bando de fracassados encontra tão pouca oposição séria entre esses mesmos intelectuais. Assim como os intelectuais alemães caíram em 1933, também os holandeses (e todos os que habitualmente são incluídos nessa categoria, uma vez que o conceito não é de contornos precisos) poderão cair, quando esse bando de fracassados se apoderar do poder — quer pelo sufrágio universal, quer por um golpe de Estado. Ambos os meios, por mais que desagradem aos intelectuais mais exigentes, são extremamente eficazes para elevar os fracassados à condição de tiranos.

Num ponto, porém, posso concordar com esse diplomata: o nacional-socialismo é, de facto, um movimento de fracassados. Isto é, é um movimento cuja inspiração provém do ressentimento. Ressentimento ou rancor — dois termos que designam praticamente o mesmo campo — têm, contudo, um peso cultural raramente avaliado em toda a sua extensão. Mas será que esse ressentimento é uma especialidade exclusiva do nacional-socialismo? Estará o fracassado, no sentido mais amplo do termo, destinado inevitavelmente ao nacional-socialismo? De onde vem esse ressentimento que agora se derrama no lago turvo do senhor Mussert?

É impossível responder a estas perguntas se, seguindo o exemplo do diplomata citado, considerarmos os fracassados apenas como um grupo isolado e o ressentimento, do qual deriva a sua razão de ser, como uma exceção. A realidade é outra: o ressentimento é um dos fenómenos mais essenciais da nossa cultura, está indissoluvelmente ligado a ela; é omnipresente. Foi um erro de perspetiva do século XIX ter prestado atenção quase exclusiva ao “desenvolvimento geral” e ter considerado pouco digno de nota o desenvolvimento paralelo — e não menos importante — do ressentimento.

À medida que a posse da cultura é cada vez mais sentida como um direito, a distância que existe entre esse direito a tudo e a posse de tão pouco, na prática, é cada vez mais percebida como uma injustiça. Uma injustiça cujas raízes, porém, não se consegue localizar, porque também não se sabe de onde vem esse famoso direito à cultura. O fracassado, o homem do ressentimento, apenas sabe que não suporta ver o que o outro possui a mais; que lhe é um inferno ver um outro privilegiado. Ressente-se, porque no ressentimento pelo menos experimenta o prazer de uma insatisfação permanente. Cultiva a ideia de vingança como o artista cultiva o l’art pour l’art. E é característico dessa vingança que a sua concretização raramente lhe traga alívio. Pelo contrário: o fracassado que, por infortúnio, perca o seu ressentimento, torna-se um homem sem destino, um fracassado ao quadrado, que procurará outros alvos para descarregar a sua amargura — a não ser que, como Hitler, seja anestesiado pela realização dos seus ideais de ressentimento e caia num estado de entorpecimento.

Não se pode, portanto, considerar o ressentimento como uma exceção numa cultura que, como a nossa, tende a conceder direitos iguais a todos os homens. É a igualdade como ideal que, dada a impossibilidade biológica e sociológica de uma verdadeira igualdade, promove o ressentimento a força de primeira ordem na sociedade. Pois aquele que não é igual ao outro e, ainda assim, deseja ser igual a ele, não é colocado no seu lugar por referência a classes ou castas, mas recebe até um prémio! A sua busca pela igualdade é considerada, em teoria, justa — mesmo por aqueles que jamais fariam algo, na prática, para alcançar uma igualdade que lhes seria prejudicial.

Eis aqui o grande paradoxo de uma sociedade democrática: o ressentimento não apenas está presente, como é encorajado como um verdadeiro direito humano.

Quem quiser compreender os fracassados e o ressentimento terá de começar por reconhecer a omnipresença do ideal de igualdade e, por consequência, a omnipresença do ressentimento. É fácil imaginar formas de sociedade em que o ressentimento se limita a manifestações informais, porque a sua presença é imediatamente restringida por um sistema de castas ou por um forte sentido de classe. É também possível conceber uma sociedade em que a desigualdade é sagrada, um tabu, e a igualdade, por conseguinte, uma ofensa à “verdadeira” ordem.

Mas no mundo democrático não há sistema de castas e da divisão medieval cristã em classes restam apenas vestígios, diariamente corroídos pelo ressentimento — sobretudo pelo ressentimento “puro”, tal como se manifesta no nacional-socialismo. Basta folhear uma edição eleitoral do órgão de ressentimento Volk en Vaderland para ver lado a lado a família de um trabalhador agrícola e a do conde de Marchant et d’Ansembourg, sob a legenda: “um ideal une o trabalhador rural e o conde”. Esse ideal é chamado, na linguagem dos nacional-socialistas, de “povo”. Mas os “camaradas” que se abraçam nas fotografias não estão realmente unidos por esse “ideal”, mas sim pelo ressentimento, que se disfarça em romantismo vazio.

O ressentimento não conhece diferenças de classe… desde que tanto o trabalhador ressentido como o conde ressentido ainda não tenham alcançado o lugar onde gostariam de estar e se unam provisoriamente contra “Moscovo”. Isso não significa, de modo algum, que o conde abdique da sua posição para se tornar trabalhador agrícola, nem que eleva o trabalhador ao seu condado. A igualdade pela “comunidade popular” é um slogan do ressentimento: em teoria, não admite qualquer desigualdade, mas, justamente por isso, serve sobretudo para encobrir as desigualdades reais.

Criar novas castas e novas classes — isto é, novas desigualdades — é tabu para o nacional-socialismo. Mesmo o seu símbolo mais alto de ordem hierárquica, o líder, é apresentado como um “camarada” a quem se pode apertar a mão durante o intervalo de uma pregação campal, se for possível passar pela sua guarda pessoal. O nacional-socialismo gaba-se de ser a “verdadeira democracia”; paradoxo que fala por si.

Nesse sentido, o nacional-socialismo não faz nada de essencialmente diferente do liberalismo, do socialismo ou da própria democracia. Também ele se volta contra a desigualdade, proclamando uma “igualdade superior” — da qual, porém, só consegue imaginar caricaturas ridículas. E não poderia ser de outra forma: a igualdade é, tal como nos tempos da liberté, égalité, fraternité, nada mais que ausência de desigualdade positiva, uma ficção derivada e banalizada da antiga “igualdade das almas perante Deus” cristã.

É precisamente neste ponto que discordo de Max Scheler, que se recusa a responsabilizar o cristianismo pela igualdade e pelo ressentimento. Expus essa divergência no meu livro De Cristãos Antigos e Novos, publicado aproximadamente ao mesmo tempo que esta brochura. Mas não é aqui o lugar para aprofundar esse debate; o que importa, neste ensaio, são as formas modernas da igualdade e do ressentimento.

Scheler fez observações notáveis a este respeito, sobretudo por as ter formulado antes de 1919, quando ainda não havia sequer fala de fascismo ou nacional-socialismo. Ele diagnosticou o ressentimento com base em formas menos “puras” do que aquelas que hoje temos diante dos olhos. As suas reflexões sobre o homem ressentido partiam da democracia e do socialismo. E, no entanto, parecem-nos assustadoramente aplicáveis ao nacional-socialismo.

Porquê? Porque a contradição entre democracia e nacional-socialismo, ou entre socialismo e nacional-socialismo, é apenas uma contradição provisória, que indica apenas a diferença de forma como o ressentimento se apresenta. Essa diferença é importante, sem dúvida. Mas não prova, de modo algum, que a democracia e o socialismo estejam livres de ressentimento. Basta pensar em Rousseau, o pai da democracia, arquétipo do homem ressentido; ou em Karl Marx, que necessitou de uma dialética perfeitamente coerente para dar à sua visão de mundo — nascida de ressentimento contra a burguesia — o selo da implacabilidade científica.

Não é exagero afirmar que o ressentimento é criador de cultura. Tem de o ser, numa sociedade que já não consegue criar cultura sustentada por desigualdades intocáveis. Assim foi no século XIX, quando se associou a ideias como “liberdade”, “igualdade” e “fraternidade”, ou ao conceito de “desenvolvimento dialético”. Assim poderá ser ainda hoje, desde que tenhamos a coragem de reconhecer como ressentimento o que é fruto do ressentimento — e de romper com os preconceitos dos intelectuais antiquados, sempre ávidos de profundidade, ou com o dogmatismo dos marxistas, que acreditam na dialética com a segurança científica e a humildade do sectário que julga possuir a “salvação”.

Não se interprete mal. Precisamente ao constatar que liberalismo, socialismo e democracia, por um lado, e nacional-socialismo, por outro, estão ligados pelo fator comum do ressentimento, afirmo que a democracia é superior às correntes fascistas e nacional-socialistas que dela derivam.

A superioridade da democracia é evidente na própria afetação dos ditadores — Mussolini, Hitler, Estaline — que insistem em apresentar-se como defensores da “verdadeira” democracia. Mesmo estes homens, que se julgariam mais afastados do que ninguém da ideia democrática, têm de reconhecê-la como última instância de legitimação. Já não podem dar-se ao luxo de se apresentar abertamente como condottieri, tiranos ou déspotas absolutos. A sua má consciência chama-se democracia.

Por isso mesmo, que a democracia seja a nossa boa consciência! Não a identifiquemos com o mero parlamentarismo ou com funções secundárias, mas sejamos democratas entusiastas precisamente porque não poupamos críticas ao sistema. Fora da democracia, na Europa, só resta a reação: o desejo carregado de ressentimento pelo passado. Dentro da democracia, ao contrário, o ressentimento tem pelo menos a liberdade de se diagnosticar e, assim, de se estilizar. Uma das vantagens inestimáveis da democracia é justamente a ausência de cenários enganadores e de fogos de artifício românticos, como os que alimentam a atmosfera artificial do nacional-socialismo.

Sei bem que esta argumentação me conduz a conclusões diferentes das de alguns intelectuais que amam a democracia de outro modo. Para eles, a contradição entre democracia e nacional-socialismo é sempre ou uma questão ética, ou uma oposição entre “verdade” e “falsidade”. Daí o esforço quase excessivo em examinar minuciosamente as chamadas “doutrinas” do nacional-socialismo e até, com boa vontade, reconhecer alguns méritos nelas — méritos que, segundo afirmam, acabam anulados pelas interpretações contrárias dos seus teóricos.

Raciocinam assim: se no nacional-socialismo não houvesse nada de bom, então não exerceria poder de sedução, não seria capaz de obscurecer consciências. Esta interpretação ética parece-me insustentável. O problema não é distinguir bem de mal, mas compreender a psicologia dessa força sedutora — psicologia que se explica apenas pela lógica da propaganda e pela suscetibilidade do homem médio do século XX a essa mesma propaganda.

Um crítico escreve, a propósito do Mythus des 20. Jahrhunderts, de Rosenberg:
“Queremos tentar uma avaliação objetiva, reconhecendo a parte de verdade nele escrita com paixão e competência, rejeitando o que nele é falso, brutal, fatal e difamatório.”

Mas tal objetividade é ilusória: pretende aplicar uma triagem enganadora a um livro cujos factos foram pilhados de enciclopédias e reunidos com habilidade num esquema a preto e branco de ressentimento absoluto — ódio aos judeus e ao cristianismo eclesiástico. Estes opositores do nacional-socialismo são ainda tão ingénuos que supõem existir aí uma pequena dose de “bondade” ou de “verdade”, quando na realidade o valor propagandístico desses escritos reside precisamente em já não se preocuparem nem com a bondade ética, nem com a verdade científica.

Esquece-se, porém, quem assim raciocina, de observar primeiro a si próprio. E por isso não reconhece a omnipresença do ressentimento — também na bondade, também na verdade. Caso contrário, teria de admitir que a contradição fundamental entre democracia e nacional-socialismo não reside na esfera do ético ou do objetivamente válido. É perfeitamente possível imaginar nacional-socialistas “bem-comportados” ou até “objetivos”.

Scheler conseguiu elaborar a sua análise do ressentimento — que por vezes parece uma profecia da epidemia nacional-socialista — com base apenas no que sabia da democracia e do socialismo. Isso é, por si só, prova suficiente da tese que tantas vezes defendi: o nacional-socialismo não é o contrário, mas sim a realização da democracia e do socialismo; não é a sua invalidação, mas a sua perversão. Refiro-me, claro, à democracia e ao socialismo doutrinários, que não se podem confundir com a realidade democrática em que vivemos e acima da qual não reconhecemos instância superior.

Quem quiser combater o nacional-socialismo deve, portanto, combater também na democracia e no socialismo a mesma fraseologia que combate, com toda a razão, no nacional-socialismo. Porque este nada mais é do que a emancipação completa do ressentimento, que em democracia e em socialismo ainda estava limitado por certas regras culturais que permitiam, até certo ponto, “estilizá-lo”.

Assim que se tenta “estilizar” o nacional-socialismo, revela-se a sua verdadeira natureza: não é senão ressentimento e a política armada que lhe está associada. Ou recai num nacionalismo extremo ou perde os seus adeptos para um socialismo extremo — isto é, para o comunismo.

Um exemplo pode ilustrar bem a origem do ressentimento nacional-socialista a partir do democrático. Scheler escreveu sobre a crítica típica do homem do ressentimento:

“Este tipo de crítica, que poderíamos chamar de ‘crítica do ressentimento’, implica que uma melhoria das condições consideradas insuportáveis nunca dá satisfação (como acontece na crítica construtiva), mas, pelo contrário, provoca insatisfação, na medida em que contraria o prazer crescente de detestar e rejeitar tudo de forma pura e simples. Pode-se dizer de vários dos nossos atuais partidos políticos que nada os enfurece tanto como o espetáculo de outro partido realizar parte do seu programa, pois isso estraga o seu prazer mórbido, a ‘oposição por princípio’, sobretudo quando alguns dos seus membros são convidados a cooperar construtivamente na ação política. A crítica do ressentimento caracteriza-se pelo facto de não querer seriamente aquilo que afirma querer; não critica para erradicar o mal, mas usa o mal como pretexto para o insulto.”

Scheler não escreveu isto sobre o NSDAP ou o NSB, partidos ressentimentistas por excelência. No entanto, são precisamente estes partidos que realizam na prática aquilo que Scheler já havia diagnosticado na democracia — que ainda partilhava o trabalho construtivo com a crítica enquanto l’art pour l’art do ressentimento.

Não é, pois, de admirar que fascismo e nacional-socialismo tenham surgido para provar que até então a democracia não passara de um ensaio preliminar, e que a verdadeira luta pela democracia só começa agora, quando o ressentimento se emancipou e o homem ressentido já não quer saber de tradições herdadas — como a pureza da ciência ou a liberdade do indivíduo.

A verdadeira luta pelos mínimos democráticos começa justamente quando a democracia, no seu máximo, se revela abertamente como nacional-socialismo e quando o “direito para todos” parece consistir no direito ilimitado de odiar, desprezar e encerrar em campos de concentração todos aqueles que não aceitam a igualdade do cacetete como ideal supremo, nem o “líder” como símbolo máximo da histeria ressentida.

A “oposição por princípio”; o ódio pelo simples prazer de odiar; o clamor veemente por algo que, no fundo, não se deseja, porque a sua realização limitaria novamente as possibilidades de ódio; a passagem imediata de uma queixa para outra, mal algo se concretiza, para não perder terreno junto do público ressentido; a grande “direção do ressentimento” que, em momentos críticos, comete as maiores estupidezes porque, sendo fruto de ressentimento puro, não tem sequer compreensão psicológica das forças que o poderiam contrariar — a saciedade, a satisfação, a decência.

Tudo isto se vê na NSB, a secção holandesa da grande internacional europeia do ressentimento, cujos esforços para parecer estritamente nacional fracassam sempre devido à total incapacidade do homem do ressentimento puro de ser outra coisa que não um simulacro. Ele é quase heróico, quase popular, quase decente, quase germânico… mas por trás de todos esses “quases” ruge o ressentimento; por trás de toda essa falsa positividade resmunga a oposição por princípio.

Quando o florim se desvaloriza, a sua própria desvalorização torna-se em poucas horas objeto da propaganda do ressentimento — porque o florim intacto já não serve para propaganda. O objeto económico em si não conta; o que importa é que a palavra “florim” possa ser usada arbitrariamente para manobras ressentidas. Assim também para Alfred Rosenberg: não existe problema científico no sentido clássico; os factos históricos são apenas material para ordenar segundo a hierarquia do ressentimento, que só conhece dois campos: o partido odiado e o partido odiador. Tudo o resto é simulacro, e quem ainda procura grãos de “verdade” com a benevolente miopia de um crítico antiquado sai, desde logo, enganado.

Um crítico em quem o ressentimento ainda não se emancipou até à pureza alcançada no nacional-socialismo julga, no entanto, poder manter a sua posição esperando encontrar aí uma complexidade de objetivos, quando na realidade nada pesa além do ressentimento puro. Não consegue imaginar uma lógica determinada pelo ressentimento como instância suprema; procura ainda um fundamento científico na teoria racial dos nacional-socialistas, em vez de concentrar a sua análise na única base que sustenta essa teoria: o ódio aos judeus.

Ainda se faz de conta que esse ódio teria sido “descoberto” em parte por meios pseudocientíficos e em parte por argumentação académica. Mas no estilo de Mein Kampf e do Mythus des 20. Jahrhunderts não ressoa nenhum argumento pessoal senão o ditado pelo ressentimento emancipado.

Querem um exemplo mais recente, de origem ainda mais ilustre? O “filósofo cultural” austríaco Karl Anton Prinz Rohan escreve no livro Schicksalsstunde Europas:

“Quando, em discussões espirituosas, se ousa afirmar que não existe uma questão judaica simplesmente porque o conceito de raça não está cientificamente definido, então o nacional-socialismo tem razão ao apontar para o simples facto do instinto de sangue do povo. Mesmo que o conceito de raça não possa ser esclarecido cientificamente, isso não contradiz a existência da raça, mas sim a capacidade da ciência.”

Podemos concordar com este príncipe em tudo, desde que substituamos a palavra profunda e mística “instinto de sangue” pela menos poética, mas mais sincera, “ressentimento” (também um “simples facto”) e entendamos a sua objeção à ciência como fruto do desejo inextinguível de justificar esse ressentimento a qualquer preço.

Os argumentos biológicos aqui invocados não passam de simulacros. O nacional-socialista não pode dispensar a frase, porque o homem do ressentimento vive de frases que lhe dão uma postura perante si mesmo e perante os outros. Se acredita ou não nelas é secundário; o essencial é que a frase proclame sempre “heroísmo”, “sangue”, “decência”, “espírito comunitário”, onde o ressentimento exige extravasar. Assim, a chamada teoria racial não passa da fachada fraseológica do ressentimento projetado sobre o eterno bode expiatório: o judeu. O ódio é primário, o ódio aos judeus é secundário, a argumentação “científica” é de terceira ordem.

Sem o ódio não se pode conceber o nacional-socialismo. O ódio aos judeus pode, quando convém, ser substituído pelo ódio à França “negrizada” ou à “imprensa servil”. Os judeus são apenas um dos muitos pretextos que dão ao ressentimento um objeto tangível. A argumentação “científica” pode até ser completamente ignorada, sem que isso altere em nada a lógica destes teóricos do ressentimento.

O desenvolvimento da filial holandesa do nacional-socialismo documenta de forma particularmente clara esse processo. O ódio aos judeus era, de início, apenas uma parte secundária (e até oficialmente negada) do programa geral de ressentimento. Mas, à medida que o “movimento” se afastava do decoro holandês e se tornava cada vez mais consciente das suas próprias frases ressentidas, o antissemitismo — um dos ódios mais fáceis e mais gratificantes — começou a ganhar terreno.

A ideia “brilhante” do líder de dividir os judeus em cinco tipos (classificação tão “científica” que deve ter abalado o Olimpo) espalhou o ódio por todos os canais da terminologia ressentida do Volk en Vaderland e dos seus esgotos secundários. E quando, após os erros cometidos no tempo da desvalorização, as coisas começaram a correr mal, o antissemitismo tornou-se num novo para-raios, já mal camuflado.

Hoje, a relação do nacional-socialismo holandês com os judeus pouco difere da do nacional-socialismo alemão; só falta inventar uma teoria racial adequada com argumentos pseudocientíficos correspondentes. E, se houver tempo de vida, isso também acontecerá, sob o signo do wolfsangel.

O nacional-socialismo tem, portanto, a sua lógica e até a sua objetividade — mas são a lógica e a objetividade do ressentimento emancipado e puro. Essa lógica não se manifesta de forma antiquada na discussão, mas sim na ordem e na propaganda. Essa objetividade não se deve procurar em argumentações fundamentadas ou na responsabilidade pelos factos, mas sim na mentira e na construção simplista dos acontecimentos mundiais, ainda que em contradição com factos geralmente reconhecidos.

Ordens, propaganda, mentiras e construções existem também na sociedade democrática, mas aí sempre à sombra da crítica, da troca de ideias, da verdade e da “contra-investigação”. A lógica do nacional-socialismo, pelo contrário, não tolera tal relativização, pois isso poria em risco o esquema simplista de que o homem do ressentimento puro necessita para se manter e expandir.

Ainda assim, pode-se falar de lógica e de objetividade, porque o homem ressentido — o homem semicivilizado — não é capaz de desmascarar as suas próprias mentiras como mentiras, nem as suas construções como construções. A psicologia da mentira nacional-socialista é muito mais interessante do que deixam supor os escritos de alguns intelectuais éticos e amantes da verdade, pois aqui a mentira substitui por completo o equilíbrio entre a “verdade” teórica e a mentira de conveniência prática que caracteriza o homem médio das democracias.

Num regime democrático, ainda é possível que um apelo à verdade tenha algum efeito; numa ditadura nacional-socialista, esse apelo já não encontra eco, porque o ressentimento puro, através de uma imprensa alinhada e de uma ciência reduzida à escravidão do Estado, transformou a sua própria lógica e objetividade em “medida de todas as coisas”.

A luta contra o nacional-socialismo será, portanto, inútil se não se compreender que é, antes de mais, uma luta contra a idealização do ressentimento — não apenas entre nacional-socialistas, mas também entre democratas e socialistas. Tal combate exigirá uma tática totalmente nova. Será preciso, por exemplo, deixar de falar com desdém do “bando de fracassados”, porque nunca se deve subestimar a magnitude dos reservatórios de ressentimento latente.

O simplismo da “doutrina” nacional-socialista também não surgiu do nada; conclusões simplistas estão no sangue de todos os que sentem necessidade de justificar-se. Basta pensar na antítese cristã entre Cristo e o Anticristo, que dominou a Idade Média; na oposição de classes de Marx, que ele não concebeu de forma simplista, mas que os seus epígonos assim tornaram; na oposição entre “elite intelectual” e “massa”, repetida de professor a aluno; e, por fim — experiência muito recente — no esquema simplista do movimento “Unidade pela Democracia”, que coloca no mesmo saco correntes tão distintas como o comunismo e o nacional-socialismo, apenas para poupar o cidadão a um pouco de reflexão, e porque a tirania de Estaline, nos seus efeitos, se assemelha à de Hitler.

O simplismo “Mussert ou Moscovo” não difere, em princípio, destes outros simplismos; distingue-se apenas em grau. Da mesma forma, o ressentimento emancipado e puro não difere em essência do ressentimento ainda limitado pelas regras culturais — difere apenas em grau. E essa diferença gradual é de enorme importância, precisamente por causa das suas consequências práticas.

Sob o nacional-socialismo, o simplismo torna-se a “medida de todas as coisas”. A ditadura nacional-socialista já não tolera crítica e torna a vida insuportável para todos os que procuram na liberdade um critério supremo, isto é, liberdade para novas complicações e novas descobertas. A única liberdade reconhecida pelo nacional-socialismo é a liberdade absoluta para o simplismo do ressentimento absoluto ditado pelo Estado.

É por isso que se pode supor que o nacional-socialismo, como doutrina do ressentimento puro, terá mais a temer do que ninguém da lenta desilusão que uma visão simplista do mundo acaba por provocar mesmo nos indivíduos mais ingénuos. Mais cedo ou mais tarde, sentirão na pele que a expulsão dos judeus, a crença nos Protocolos dos Sábios de Sião e os clamores sobre o “bolchevismo mundial” não satisfazem a sede de ressentimento melhor do que qualquer outro pretexto. E então só podemos imaginar qual será a vingança do ressentimento contra os profetas do milagre e os fazedores de chuva — os “líderes” — quando os milagres e a chuva não chegarem.

O nacional-socialismo, enquanto doutrina do ressentimento puro, revela-se também noutra questão: a ideia, frequente sobretudo em meios socialistas, de que o ressentimento seria consequência de injustiças sociais e da pobreza. Idealizou-se muitas vezes a pobreza em contraste com a riqueza, supondo-se que a classe trabalhadora, desde Marx, detinha um sentido especial de justiça, uma vez que o destino da humanidade fora identificado com a abolição das contradições de classe pelo proletariado.

O nacional-socialismo prova o contrário. Não é religião dos “rejeitados da terra”, nem sociologia das contradições de classe analisadas cientificamente. Apresenta-se como “comunidade popular” (Volksgemeinschaft), isto é, quer que os ricos continuem ricos, os de classe média continuem de classe média e os pobres continuem pobres… mas tudo até certo ponto, limitado pelas esmolas da Winterhilfe (campanha de ajuda de inverno).

A falta de pontos programáticos positivos e a abundância de promessas para todos revelam que o nacional-socialismo é a primeira “doutrina” na Europa democrática que nasce do ressentimento de todos contra todos: dos pobres contra os ricos, dos ricos contra os pobres, da pequena burguesia contra ambos — contra os odiados “grandes capitalistas” e contra os igualmente odiados “escravos de Moscovo”.

Por isso, é potencialmente adequado para todos os que têm instrução suficiente para não serem analfabetos — é preciso, pelo menos, saber ler um panfleto e ter ouvido falar dos Germanos ou de Piet Hein — e que receberam essa instrução como algo natural, como um direito, mas que não têm inclinação para se contentar com o simplismo mais elementar. E desses há muito mais do que apenas um “grupo”.

A sua ascensão foi preparada, com comovente ingenuidade, por todas as bênçãos da democracia: a escolaridade obrigatória, as universidades populares, as salas de leitura públicas. E quando o ressentimento de todos contra todos se volta, a certa altura, contra estas instituições, só se pode concluir que a ingratidão é o salário do mundo.

Não é a estupidez pura que favorece o nacional-socialismo, nem sequer a pobreza, embora ambas possam preparar o terreno. É a semicivilização, condição indispensável para o ressentimento nacional-socialista, que une ricos, pobres e classe média por um laço místico. E é o produto dessa semicivilização — a frase, síntese de pathos, mentira e simplismo — que se torna o sjibboleth da internacional do ressentimento.

Combater o nacional-socialismo não é, portanto, o mesmo que combater os abusos sociais. O ressentimento, enquanto não for atingido na raiz, criará abusos se necessário — apenas para se justificar. É tolice negar a influência das injustiças e da crise no desenvolvimento do nacional-socialismo; mas é ainda mais tolo procurar a sua origem apenas nesses fatores.

É também míope reduzir o movimento a expressão exclusiva da “pequena burguesia” — o comerciante ou o rendeiro ameaçado pelo grande capital e pelo operariado organizado. O pequeno burguês é, no máximo, um símbolo transitório do nacional-socialismo, porque foi o mais acessível à emancipação do ressentimento, depois de ter perdido a sua religião, ou pelo menos a confiança inabalável de outrora nessa religião, sem encontrar uma nova ideologia que a substituísse.

Mas estamos apenas no início de um desenvolvimento da semicivilização, do qual o ressentimento se alimenta. E é bem possível que o pequeno burguês se torne cada vez mais a medida da média humana, numa sociedade que abandona o conceito de classes. Por isso, uma derrota temporária do nacional-socialismo não é motivo para considerar o perigo conjurado. Pois, em última instância, o perigo não é o nacional-socialismo como “doutrina”, mas o ressentimento puro, que já não sabe de onde vem e que acredita na frase como na pura verdade da pura mentira.

Assim, o homem ressentido acredita num “líder” que nunca provou sê-lo, mas “sem o qual a Holanda já não teria futuro”. Transfere a sua responsabilidade para um ex-engenheiro que copiou a sua terminologia, a sua camisa e até o seu rosto de exemplos estrangeiros — embora, como o sapo da fábula que tenta inchar como o boi, se encha de orgulho nacional.

O senhor Mussert no topo da hierarquia holandesa e, ao mesmo tempo, “servus servorum Populi” — servo dos servos do povo. Como não recordar aqui a ironia de Nietzsche: “Ich hoffe, man kann über diese Emporschräubung einer kleinen Spezies zum absoluten Wertmass der Dinge noch lachen?” (“Espero que ainda se possa rir desta elevação de uma pequena espécie à medida absoluta das coisas?”).

Mas é verdade: o ressentimento está desprovido de humor. Nada mata mais o humor do que o ressentimento. Precisamente por isso, é necessário refletir também sobre a relatividade do riso e da sátira. O velho ditado le ridicule tue (“o ridículo mata”) já não se aplica, quando o ressentimento se apresenta como valor absoluto sob os slogans mais sonoros e as teorias mais insanas. Se o riso ainda fosse mortal, já teria desencadeado gargalhadas capazes de fazer incontáveis vítimas. O facto de le ridicule tue perder toda a aplicabilidade face ao nacional-socialismo é prova do poder que o ressentimento exerce sobre as almas.

Quando finalmente tem oportunidade de se manifestar, o ressentimento assume uma figura ridícula que, no entanto, não é vista como ridícula entre os companheiros de ressentimento — antes é acolhida com devoção.

A luta contra o nacional-socialismo não é conduzida apenas pelos intelectuais. A sua influência no mundo da semicivilização — de que eles próprios são, em maior ou menor grau, produto — é muito menor do que geralmente se supõe. Por isso, a monstruosa presunção dos intelectuais (não falo de uma qualquer “elite” duvidosa, mas dos profissionais do espírito no sentido mais amplo) é mais previsível do que se pensa, mesmo na estimativa mais baixa.

Além disso, parte desses intelectuais está contaminada por uma certa benevolência quase filosófica em relação aos supostos elementos “positivos” entre os nacional-socialistas. Na Holanda já temos até alguns filósofos do ressentimento declarados, que em surpreendentemente pouco tempo aprenderam a mudar do humanismo para o Blubo (Blut und Boden, Sangue e Solo). Escrevem com naturalidade sobre “Nietzsche, Spengler e Hitler”, como se não fosse necessário lavar a boca antes de pronunciar esse “e”, como se o primeiro filósofo do ressentimento pudesse ser simplesmente equiparado a uma personagem que não passa de instrumento sem vontade própria desse mesmo ressentimento.

Estes senhores — quase por ordem — aprenderam a calar-se sobre campos de concentração, perseguições de judeus e o incêndio do Reichstag. Mas tanto mais zelosos se mostram a propagar as suas conversas infantis sobre mitos antigos e novos, sobre a “comunidade popular” e outras peças teóricas que apenas camuflam o ressentimento.

Mais perigosos do que estes descendentes da profundidade filosófica são os benevolentes que desprezam as “questões secundárias”, mas estão sempre à procura do “fundo”, da “essência”, da sua “questão principal” platónica. Para eles, o conselho de procurar em profundidade não é apenas inútil, é enganador. Afinal, nada desejam mais do que ser “profundos” — e esquecem a superfície.

Injustamente. Pois o nacional-socialismo é, na sua fraseologia, imensamente profundo, muito mais do que o humanismo. É imensamente “espiritual”: pretende, como se lê em qualquer panfleto do gabinete Mussert & Co., uma “revolução do espírito” e até uma revolução “sem sangue” (cito do folheto Alarm, de 7 de abril de 1937).

Mas é só à superfície que se conhece o nacional-socialismo como doutrina do ressentimento puro: são as fórmulas do ódio, as inflexões da inveja, a malícia da calúnia que devem ser apontadas aos benevolentes. Pois, se retirarmos essas “questões secundárias” da sua “questão principal”, não resta nada senão o ressentimento de todos contra todos — que, levado à sua consequência extrema, é a guerra de todos contra todos. O resto é ficção romântica do ressentimento, que não consegue viver sem romantismo.

Toda a forma de romantismo contém uma veia de ressentimento; mas este é o romantismo puro, porque nasce de ressentimento puro. Não é na suposta profundidade romântica que se reconhece o nacional-socialismo, mas na sua superfície traiçoeira e descontrolada. É a superfície que revela que estes “aristocratas” são democratas pervertidos, que estes “idealistas do povo” utilizam o “povo” para os seus fins particulares, que estes “líderes” e “arianos” querem, afinal, aquilo que não querem de todo, segundo a definição de Scheler. Pois o que eles querem com paixão ilimitada é dar largas ao seu ressentimento, por todos os meios e sob todos os slogans que possam servir a esse fim.

Esta redução do nacional-socialismo a nada mais do que ressentimento não é um novo simplismo ao lado dos antigos (não nego particularidades, nem a ajuda dos fabricantes de armas — que, aliás, também têm mais ressentimento do que se pensa — nem mesmo possíveis “desvios” positivos). É apenas a passagem do primeiro plano, dourado a falso brilho, para o segundo plano, cuidadosamente escondido, menos cintilante e também menos carregado de motivos.

Se há algo que se pode exigir dos intelectuais é isto: que não se deixem impressionar nem por um instante pela fachada e pelo atrativo tambor turco; que estejam sempre prontos a desmascarar falsificações e a traduzir em palavras comuns as frases pomposas.

Para isso é indispensável reconhecer o poder do ressentimento sobre toda a nossa cultura. Pois o combate à frase pela contrafrase, indispensável na luta pelo poder entre democracia e nacional-socialismo, não obriga os intelectuais a seguirem acriticamente — obriga-os, antes, a um oportunismo crítico. Esse oportunismo crítico é o sinal da sua lealdade à democracia.

O verdadeiro problema — como reconhecer e dominar o ressentimento — terá de ser tratado mais tarde. Mas não antes de o ressentimento puro ser destronado, e de a grande justiça da história se cumprir sobre os “líderes” e sobre as suas camisas uniformizadas.

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